sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Educadora Física, Acompanhante, Cuidadora e Amiga...


Comecei por acaso, talvez não tão por acaso assim.... 

Fui indicada para fazer companhia para uma idosa de 83 anos enquanto sua irmã não retornava de uma viagem. Fiquei um mês e passou muito rápido. Era realmente divertido ouvir suas experiências de vida e ela se mostrava muito interessada em aprender tudo que eu me dispunha ensinar. Acredito que tenha sido uma vivência bacana tanto para mim quanto para ela, pois falamos até hoje. 

Um tempo depois outra senhora me ligou, uma amiga havia me indicado. Na época eu estava no fim do curso de Educação Física, e então 3 vezes na semana no período da tarde eu ia a sua casa. No começo acompanhava em visitas médicas, em ocasiões sociais e onde mais fosse necessário. Então senti a necessidade de fazer um curso de Cuidadora de Idosos para dar maior acompanhamento à suas necessidades. Ela estava com 79 anos, morava sozinha e tinha alguns problemas de saúde como dificuldade de equilíbrio, locomoção, visão, sérios problemas cardíacos e o histórico de um AVC.

O tempo passou e fomos nos apegando cada vez mais, então passei a encontra - lá 5 vezes na semana no período da tarde. Fazíamos caminhadas diárias, exercícios para  o equilíbrio, força e alongamento. Ela demonstrou interesse em aprender a utilizar o computador então criamos um endereço de e-mail pelo qual ela se comunicava com o filho que morava em outro estado, ela também gostava de jogos, ler notícias e praticar outras línguas.

Havia também os dias difíceis - e que eram realmente difíceis. Quando ela abria a porta pelo jeito que me cumprimentava eu já sabia como seria nosso dia. Ela se sentia sozinha nos fins de semana e geralmente na sexta-feira ficava num humor lastimável. Era complicado porque eu também precisava de um tempo para descansar, nessa época eu estava trabalhando pela manhã em uma academia dando aulas e a tarde ficava com ela, meu horário de almoço era praticamente inexistente. Diversas vezes voltei para casa um trapo, via os problemas de saúde dela se agravando, a sua solidão, seus medos e não tinha como não absorver e pensar a respeito da minha própria vida e da vida dos meus familiares. Sempre fiz o que pude para que enquanto estivéssemos juntas as coisas ficassem mais alegres.

Passamos assim cerca de 1 ano e seis meses, então no meio desse ano (2012) ela caiu enquanto estava sozinha em casa num domingo e teve uma micro fratura na altura da coluna torácica que não a impedia de andar, mas lhe causava muita dor. E foi então que as coisas começaram a mudar muito rápido. Já não conseguia mais fazer suas atividades de vida diária, sua higiene pessoal, se confundia com os remédios... Tudo parece acontecer ao mesmo tempo, eu estava grávida de 5 meses e a rotina começava a pesar bastante.

Nesse momento a família dela estava mais presente do que nunca, e juntos achamos que ela precisava de cuidados 24h. Montamos uma equipe de Cuidadoras e aos poucos fomos fazendo a transição, ensinei tudo o que sabia a respeito da sua rotina e seus gostos, suas atividades e assim diminuímos novamente para 3 vezes na semana nossos encontros. 

Hoje sua saúde continua entre altos e baixos, mas a coluna teve uma boa recuperação e ela voltou a fazer um pouco de suas atividades. Não nos vemos mais todos os dias, mas mantemos contato, a amizade e o carinho continuam iguais. Hoje mesmo no meio desse texto bateu a saudade e liguei para bater papo. Ainda fazemos uma dupla e tanto... =)

Muitas vezes ouvi as pessoas dizendo que era preciso muita paciência para fazer companhia para uma pessoa idosa. Sinceramente acredito que é preciso mais do que qualquer coisa o respeito e a compreensão. Todos têm história de vida única, dias bons e ruins, preferências, vontade de falar e ser ouvido. No fundo a idade pouco importa se você tem respeito pelo outro.

2 comentários:

  1. Debrinha, eu fiquei emocionada lendo seu texto. Realmente, ter paciência não é o suficiente para cuidar e acompanhar. Às vezes perdemos o controle e nos esquecemos de tudo que eles já passaram na vida e de o quanto são melhores que nós como pessoa, pois aprenderam tudo que vamos ainda aprender e viver. Boa sorte na carreira profissional e na carreira de mamãe. Beijo.

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    1. Oi Dani!

      Sabe que o melhor de trabalhar com idosos e de ter esse contato maior é a aprendizagem. Não falo só das experiências que eles tiveram ao longo de suas vidas, mas é que esse contato faz a gente pensar mais a respeito de nossas próprias vidas, mudar atitudes que podem refletir depois. É claro que as histórias também são ótimas, uma vez uma senhora tava me contando que quando ela era novinha para falar ao telefone tinha que gritar, que era péssimo e quase ninguém tinha... pouco tempo depois ela queria saber como funcionava as redes sociais. É incrível pensar na quantidade de evoluções tecnológicas, sociais e culturais que elas passaram. Espero ter a sorte de passar por uma porção de coisas e ter um monte de histórias para contar =)


      Bjom

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