segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Espelhos, auto-imagem e auto-estima

Em um desses muitos dias de trabalho em casas de repouso, asilos entre outros lugares em contato direto com idosos reparei em algo, que talvez passe desapercebido para alguns, mas que chamou minha atenção, a falta de espelhos.

Certa vez uma cuidadora de idosos aqui da cidade de Curitiba, havia me contato a história de uma senhora com doença de Alzheimer que ao olhar no espelho havia se espantado, quase não se reconhecendo. A princípio achei que era por causa da doença e não mais pensei no assunto por algum tempo. Não imaginando a quanto tempo ela não se via em algum espelho. Outra vez em uma casa de repouso notei que em nenhum dos quartos ou banheiros possuía espelhos, é difícil imaginar uma casa sem ao menos um ou dois espelhos, mas neste local não tinha. Noutra vez foi na casa da minha avó Ramona reparei a mesma coisa, na casa toda havia apenas um espelho pequeno localizado em um local pouco prático.
Esses são apenas alguns exemplos, porém me leva a pensar no que acontece com essas pessoas. Me arrisco a associar isto, à problemas de auto-estima/auto-imagem, a falta de aceitação da própria idade e processo de envelhecimento ou ainda a falta de aceitação das pessoas que vivem ao seu redor.
Alguns idosos deprimidos com a imagem que fazem de si mesmos não aceitam seu envelhecer, desenvolvendo assim sentimento de auto-estima e de autodesvalorização (PESSINI; SILVA; VITORELI, 2005). Existe também aqueles idosos que ao envelhecer passam por diversos problemas de saúde e preconceito, muitas vezes atingindo sua auto-estima/auto-imagem levando a problemas psicológicos e depressão. A auto-estima está diretamente relacionada com sentimentos de competência e de valor próprio, já a auto-imagem é a imagem que formamos em nossa mente de nós mesmos, ou seja, como nos percebemos (BENEDETTI; GONÇALVES; PETROSKI, 2003).

Dados do IBGE apontam que o crescimento da população com mais de 60 anos é relativamente recente, estima-se que em 2025 passe dos 30 milhões de idosos. Analisando as datas da criação da Política Nacional do Idoso – 1994, e do Estatuto do Idoso – 2003 (sancionado pelo presidente após 7 anos de tramitação) nota-se que são leis muito recentes. O ponto principal é que nem todos se conscientizaram ainda que o idoso merece cuidado, respeito e dignidade, assim como qualquer outro cidadão.

É preciso a conscientização das pessoas de que envelhecer é natural. Cada aniversário deveria ser comemorado, cada ano acrescentado sem nenhuma vergonha ou omissão. Todos envelhecem, cada qual de modo diferente. Não digo isso apenas para os idosos não! Os jovens deveriam propagar essa idéia desde já, para não sintam vergonha da velhice de seus pais e avós, e também para que posteriormente não se envergonhem de si mesmos mantendo em casa seus próprios espelhos.


Referências

BENEDETTI, Tânia B.; GONÇALVES, Lucia T.; PETROSKI, Édio L. Exercícios físicos, auto-imagem e auto-estima em idosos asilados. Volume 5 – Número 2 – p. 69 - 74 – 2003

SILVA, Maria J. P.; PESSINI, Salete; VITORELI, Eliane.  A auto-estima de idosos e as doenças crônico-degenerativas. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 102-114 - jan./jun. 2005 

2 comentários:

  1. Muito legal seu post.

    Eu também já tinha percebido isso. E mais, como é importante para os idosos se sentirem bem, bonitos. Acho que devemos nos esforçar pra perceber e evitar comentários do tipo "você já não é mais uma criança", "A senhora tem que cuidar da sua saúde"... coisas que só os fazem sentirem mais velhos e inseguros.

    Precisamos rever nossa postura diante dos idosos.

    Parabéns pela iniciativa.
    Gosto muito de ler seu Blog.

    :)

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  2. Realmente, é muito importante revermos nossos conceitos e nossa postura sobre os idosos, assim como o processo todo de envelhecimento.

    Obrigada pelo incentivo e pelo seu comentário, não deixe de ler os próximos textos!

    =)

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